Me pergunto o motivo do cinza ser tão cinza e o eco me devolve um ruído dissonante: "sempre foi assim, você que não viu. É um problema da sociedade". Juro que se encontro com essa sociedade numa esquina qualquer... não, pera. O nublado existe em mim antes de tirar a cor do que existe lá fora. E agora? Não, eu devo estar daltônica, logo agora que o mundo tá verde e amarelo? Pessoas colorem as ruas com cartazes gritando indignações e eu aqui enxergando tudo borrado. Será mesmo?
Em meio às dúvidas, pertinentes ou irônicas, percebo que o cinza ainda está lá, como um rastro de olheiras profundas por baixo de uma camada grossa de maquiagem. Os problemas sociais são tão latentes quanto há duas semanas atrás e vinte centavos a mais no meu bolso não vai resolver isso. Não diminuímos ainda os abismos que nos separam. Ainda há pessoas morando nas ruas, crianças passando fome, balas de verdade rasgando o céu dos pobres, os jornais condenando e executando pessoas antes de seus julgamentos e gente ganhando muito dinheiro pra nos convencer todos os dias de que "a sociedade é assim mesmo, não vai mudar."
Mihail Korubin-Miho
Enquanto as mãos com cartaz colorido em punho não enxergarem o cinza que corrói e descolore tudo em volta, precisaremos de muitas pílulas coloridas pra nos fazer enxergar no mundo a cor que falta em nós.