21/02/2015

De onde vem essa vontade de voar?

Aos 12 anos decidi que aos 18 moraria sozinha. Tive a oportunidade de “sair do ninho” (com todas as aspas possíveis) aos 15, e os motivos que me impulsionaram nunca envolveram “odeio meus pais” nem nada do tipo. Eu só queria, sem mais.
Ainda sinto isso pulsar em mim hoje e questiono de onde vem essa vontade toda. Lá no fundo sempre soube.  Colocar a cara pra fora da janela é descobrir as possibilidades de ser no mundo, romper (mesmo que sutilmente) com as influências que dirigem nosso jeito de caminhar. É moldar a si próprio e arriscar saber se no fim das contas sobra alguma coisa desse monte de personagens que assumimos no cotidiano. Se só tiver o vazio, é… realmente complica, mas existe uma possibilidade inevitavelmente atraente de descobrir multifaces, multiformas e multipessoas d

03/07/2013

Chega de política, me fala dos tons pastéis

Não dá pra mentir, às vezes o mundo parece cinza mesmo. Pra cada coisa que gostamos de fazer surgem outras dez que temos que fazer e a vida parece um filme chato, sem brilho, cheia de obrigações e horários a cumprir. Tem também o meio tempo, aquele que passamos entre uma responsabilidade e outra, a gente se vira como pode, lê um livro no ônibus, joga no celular enquanto a fila não anda, mas é meio difícil ser criativo nessas lacunas. Eu me pego analisando propagandas: em outdoors, revistas, TV...  Analiso o uso das cores, a composição das imagens, as fontes dos textos... por vezes sou cruel nas minhas críticas. Aí lembro que ninguém dá a mínima pra isso e volto pro mundo de verdade. Pois é, cada um usa as ferramentas que tem pra colorir o cinza.

Me pergunto o motivo do cinza ser tão cinza e o eco me devolve um ruído dissonante: "sempre foi assim, você que não viu. É um problema da sociedade". Juro que se encontro com essa sociedade numa esquina qualquer... não, pera. O nublado existe em mim antes de tirar a cor do que existe lá fora. E agora? Não, eu devo estar daltônica, logo agora que o mundo tá verde e amarelo? Pessoas colorem as ruas com cartazes gritando indignações e eu aqui enxergando tudo borrado. Será mesmo?

Em meio às dúvidas, pertinentes ou irônicas, percebo que o cinza ainda está lá, como um rastro de olheiras profundas por baixo de uma camada grossa de maquiagem. Os problemas sociais são tão latentes quanto há duas semanas atrás e vinte centavos a mais no meu bolso não vai resolver isso. Não diminuímos ainda os abismos que nos separam. Ainda há pessoas morando nas ruas, crianças passando fome, balas de verdade rasgando o céu dos pobres, os jornais condenando e executando pessoas antes de seus julgamentos e gente ganhando muito dinheiro pra nos convencer todos os dias de que "a sociedade é assim mesmo, não vai mudar."

                                               Mihail Korubin-Miho

Enquanto as mãos com cartaz colorido em punho não enxergarem o cinza que corrói e descolore tudo em volta, precisaremos de muitas pílulas coloridas pra nos fazer enxergar no mundo a cor que falta em nós.


31/01/2013

Meu templo coletivo itinerante

Pelo menos duas horas por dia, dez horas por semana, quatrocentas e oitenta horas, que somadas resultam em 20 dias inteiros por ano. Esse é o tempo que passo no (já íntimo) ônibus. No caminho de casa para o estágio, da faculdade para casa. O ônibus já faz parte da minha trajetória.

Quando criança, como quase nunca o via, achava o máximo viajar nessa espécie de nave espacial com uma porta especial para crianças, idosos e deficientes e sonhava ser grande o suficiente para atravessar a grade vermelha, que girava para os adultos passarem. O tempo passou e os sentimentos mudaram. Passei a sentir nojo dele e isso nem se dava por qualquer tipo de preconceito pseudo-burguês, mas toda vez que sentia o cheiro de óleo diesel e ouvia o rugido do motor, meu estômago se contorcia a ponto de precisar pedir transferência à uma escola mais próxima de casa.

Hoje o enjoo ainda bate às vezes, mas é principalmente por perceber o descaso das empresas e governo em relação às pessoas que dependem do transporte público, uma vez que quase não há mais um meio “alternativo” para cumprir com seus compromissos. Vê-lo passar é tão raro, que já tive vontade de acenar para o “meu” ônibus indo apenas à padaria. Afinal, nunca sei ao certo quando voltarei a encontrá-lo, pois embora tenha horários extremamente rígidos, em geral não os cumpre.

A verdade é, que uma mágica acontece nesse percurso infindável de todos os dias dentro desse caixote lotado de gente: minha mente viaja. Não tendo mais o que fazer a não ser esperar pelo meu destino, descubro nesse trânsito diversas coisas sobre mim, sobre o mundo e sobre meu modo de ver e existir no mundo. É claro, que por vezes a paciência se esgota, passageiros chatos e falantes surgem de uma esquina qualquer e minha paz de espírito se esvai.

Quando penso, porém, no tamanho das questões mais determinantes que tenho pra solucionar, nas aflições dessa correria que sempre me faz estar atrasada para alguma responsabilidade, o ônibus se torna meu templo itinerante. Mesmo tendo medo do próximo cara estranho que pode entrar num ponto desses, mesmo sabendo que todo mundo acaba disputando uma janela privilegiada (principalmente na ausência de ar-condicionado) e torcendo pra nenhum espaçoso sentar ao meu lado, quando vejo que a inércia é minha única saída, percebo também o quanto Zigmunt Bauman acertou ao dizer que “para sermos capazes de agir livremente, precisamos ter muito mais que livre arbítrio” em sua obra ‘Aprendendo a pensar em sociologia’.

Buscando olhar este quadro de modo mais externo é visível o equívoco em pensar que todo esse processo ocorre apenas pelo fluxo de escolhas minhas de modo plenamente voluntário. O mundo dita as regras e nós a seguimos, conscientes ou não, pois “a liberdade de escolha não garante nossa liberdade de efetivamente atuar sobre estas escolhas, nem assegura a liberdade de atingir os resultados almejados”. Apesar de tudo, vale o risco? Acho que não há muitas opções, né?

17/10/2012

A tal da zona

Eis que resolveram montar uma verdadeira caça à zona, dizendo ser impossível ser feliz dentro dela. Dizem que a tal da zona de conforto é responsável por tudo que nos paralisa, estaciona e estagna. É o "Encontre a sua zona de conforto e fuja dela", o problema todo é que tá difícil demais encontrar a zona e quando a achamos, francamente, não dá vontade alguma de sair... Dá vontade é de se jogar nela, isso quando não estamos tão acostumados a ela que nem nos damos conta, daí essa vontade toda de condenar a zona de todo mundo, mas a minha, bom, deixa ela quietinha aqui, porque sabe-se lá do dia de amanhã, né não?

Tenho pensado bastante a respeito disso e trocadilhos à parte, o que me paralisa de verdade não é como posso ou não fugir da tal zona, mas como identificar aquilo que eu já acostumei a chamar de porto-seguro, estabilidade e segurança garantida da tão temida e perseguida zona de conforto. Se a zona fosse ruim ela não teria conforto no nome, assim como é bom comer coisas calóricas e difícil manter uma rotina digna na academia. 

Eu acredito que no fim das contas o grande caos causado pela zona de conforto é o fato de que acabamos perdendo nosso referencial de ser e do que buscamos fazer da nossa vida dentro dela. Tudo fica tão automatizado que acabamos nos tornando robôs, vítimas das nossas rotinas, manias e dos objetivos que no meio disso tudo se perdem, porque mesmo que eles existam, acabam se tornando sombras do que realmente poderiam ser. Na vida tudo é tão dinâmico, efêmero e às vezes até hostil, que preferimos nos prender àquele resquício de solidariedade que a zona nos proporciona. A zona é o limbo: tá ruim, mas tá bom! A zona é o refúgio: se eu ficar aqui e fingir que o mundo não existe, talvez o mundo esqueça de mim também. Só que não.

A verdade é que dizer que saiu da zona é mole, mas ousar viver de verdade é um mega desafio e que deve ser enfrentado diariamente. Viver é ousar perder, é arriscar crer que um objetivo é possível de ser alcançado, é se jogar em direção a algo ou alguém ou ser corajoso o suficiente pra admitir que não se sente pronto pra tanto. Romper com o vício da zona é antes de tudo ser honesto consigo mesmo, porque a zona pode até não ser um lugar físico (dependendo do ponto de vista, claro) mas ela pode se tornar uma gaiola, que nos impede de enxergar não só o Sol e as cores da vida, mas principalmente a nós mesmos.

09/03/2012


O dia depois de ontem

Eis que resolvo me pronunciar a respeito do Dia Internacional da Mulher, com um atraso proposital fazendo um convite à reflexão num dia comum. Eu sei que o dia 8 de março carrega uma história importante e que muitas mulheres já sofreram forte repressão pra que hoje recebêssemos rosas vermelhas até de um ambulante na rua. Que clima legal, recebo o reconhecimento por uma história de opressão que não vivi, mas a anatomia me dotou de algo especial que é digno de tal agrado. Então tá, fico grata de verdade. Homens, vocês são uns fofos quando não são ogros.

Analisemos os fatos então. Sei que o preconceito ainda existe e que muitas de nós enfrentam rotinas extremamente desgastantes sem o menor reconhecimento (acostumem-se meninas, é mais fácil o mundo te dar uma banda quando você ameaçar tropeçar do que tapinha nas costas quando você fizer algo legal, mas fiquem firmes, isso acontece não por sermos mulheres, mas por sermos seres humanos.)

Pesquisas demonstram que 77% dos lares são administrados por mulheres, nós não somos as mais econômicas, fato, mas 'ao que parece' sabemos fazer a coisa dar certo. Estatísticas mostram que não somos assim tão imprudentes ao volante: http://goo.gl/ZgtT8. Tem um zilhão de pesquisas dizendo que quanto maior o grau de instrução da mulher, maiores as chances de viver sozinha e que as mulheres da atualidade estão se "adaptando" a nova realidade: a solidão. Nossa, se mata com a faca da cozinha então... Eu não acredito muito em dados genéricos, porque gosto mais de crer que cada ser humano carrega um potencial imenso de transformar-se constantemente, o que resulta numa diferença vital pra que não nos tornemos robôs ou qualquer coisa do tipo.

Hoje é dia 9 e provavelmente as pessoas não lembram mais de todas as declarações feitas ontem, o que é mais importante, entretanto, é que nos valorizemos todos os dias não só como pessoas do gênero feminino, mas principalmente enquanto 'pessoas'. Vivemos em um caos onde os valores se confundem tanto, as mulheres se mostram tão meninas nessa briga de "preciso provar pro mundo que sou superior ao homem", se submetendo a cada coisa por aí. Gente, a graça existe na diferença, que mania de querer ser igual. O que eu vejo são meninas piriguetando precocemente, outras 'senhorinhas' bancando as menininhas de 15 e no meio disso tudo, penso que a data comemorativa já passou e com ele parece que esquecemos do quanto somos especiais.

Desejo nesse dia ordinário e (até onde eu sei nada comemorativo internacionalmente) que lutemos com a mesma força das que vieram antes de nós pelo direito de voto, pelo direito a usar um jeans apertado sem medo, ou biquine... Pelo direito de decidir o que queremos da vida! Em nome delas, peço solenemente que exerçamos esse direito como um dever, como verdadeiras senhoras do nosso destino. Vivemos pra dizer que não dependemos de homens pra sermos felizes, mas saímos pro aí fazendo coisas que só demonstram uma incapacidade de conduzir a própria história, transformando qualquer demonstração de sentimento em fraqueza que no fim das contas resulta em uma carência absurda e infundada.

Que sejamos meninas, mulheres, garotas, e o que mais der vontade, mas por favor só peço que não sejamos crianças. Feliz Dia Internacional da Mulher.


02/03/2012

Sou dessas

Não sei direito o que tá acontecendo, mas parece que todos os 7 bilhões de habitantes desse planeta resolveram implicar com a minha indecisão cotidiana. Assumo meus defeitos, não nego, melhoro quando der e realmente quiser. Assumo que essa fraqueza me incomoda às vezes e me faz demorar mais que a maioria pra comprar uma blusa ou um doce na padaria. Tá, mas daí me acusarem de sofrer de algo altamente prejudicial a minha felicidade... Calma aí, gente, acho legal vocês não ficarem em dúvida nunca, mas estão pecando por exagero na hora de me avaliar.

Acho muito legal perceber que tem tanta gente preocupada com a minha felicidade, mas por favor, não me recriminem tanto. Tô tão feliz, quando der eu paro pra pensar nesses ajustes que preciso fazer em mim mesma, ou uso esse tempo pra fazer rapel... ou pra aprender a surfar? Ah... na hora eu decido.

A verdade é que eu não gosto da ideia de escolher mal, mesmo sabendo que viver é sempre válido. Sei também que não sou indecisa em todos os campos da minha vida, se assim fosse seria incapaz de amarrar meu próprio sapato e não conseguiria pensar em um terço das coisas que escrevo aqui. O fato é que eu sou louca, pode mandar me internar, mas os normais são uns chatos.

Eu sou várias! Fico tonta com tantas mulheres dentro de mim, mas amo cada uma delas e minha felicidade está intimamente ligada a essa constatação. Se estivesse em um divã, me acusariam de personalidade múltipla, porque uma só é miserinha pra mim.

Tem a Rávellyn garotinha que às vezes se mete em cada furada por ser ingênua e inocente demais. Tem a Rávellyn mulherão, que quando aparece num furacão de autoconfiança faz o mundo tremer. Tem a Rávellyn mais introspectiva, que pensa demais na vida, esbarra em desconhecidos sem se dar conta por causa disso e deve ser a que escreve sempre no blog, mas que carrega o detalhe de ficar na dúvida na hora de comprar uma fatia de torta: morango com chocolate ao leite ou morango com brigadeiro e meio-amargo? Eis a questão.

Pra maioria das pessoas esses minutos que passo decidindo é tempo perdido, mas pra mim é o tempo que dedico pra fazer escolhas que podem tornar o meu dia mais feliz. Vai entender? Me sinto pior pegando a primeira coisa que vejo pela frente, parece que to fugindo da responsabilidade de escolher. Um suco de morango ao leite é melhor que o de laranja pra uma tarde entediante? Sei lá, mas saber que vou tomar AQUELE suco pode tornar essa tarde comum mais agradável.

Acredito que esse defeito não é assim tão prejudicial por uma única razão: eu tenho certeza a respeito de um monte de coisas. Sei muito bem quem eu sou, embora também saiba que mudo o tempo todo e isso significa morrer tentando me entender. Posso ficar em dúvida sobre o que comer, o que vestir, qual maquiagem usar, mas me conheço o suficiente pra saber que na hora que a coisa aperta e preciso saber como agir, aparece uma Rávellyn surpreendente, eu gosto bastante dessa, não desmerecendo as outras, mas é justamente o seu fator "Imprevisibilidade" que torna a minha vida mais excitante.

Amo muito cada uma das pessoas que tornam a minha vida mais feliz, mas amo acima de tudo essas garotas, molecas, mulheres, senhoras (porquê não?) que tornam a minha existência algo único pro mundo, principalmente o meu.